segunda-feira, 11 de julho de 2011

COTIDIANO.......Luis Alberto Salerno Miguel

Última dúvida, último pranto.
Última vez do dicionário.
Último aviso, último enredo,
que ainda se mantém absconso.


Último gole, último cigarro.
Última vez do espelho.
Último corte, último contrato,
que ainda lavra escondido.


Último desejo, última conquista.
Última gota de bile.
Última pressa, último sonho,
que ainda permanece equívoco.


E o que passou repetidas vezes
ainda continua passando:
as horas, os subúrbios.
O ano velho ainda não passou.


As casas, as ruas, os nomes,
as crianças em alvoroço,
tudo continua passando.
As perguntas continuam passando.


A derradeira nudez ainda na retina,
o derradeiro amor ainda afoito.
O derradeiro beijo sempre igual,
ainda comporta mil outros iguais.


DA VIDA: QUAL SERÁ A DERRADEIRA LIÇÃO ? ...

Um comentário:

  1. Carlos, acho que Luis Miguel é um poeta fantástico. Nesse poema ele expõe o cotidiano de uma forma bela e rasgando entranhas de várias facetas .As frases com as quais ele fecha todas as estrofes, são de uma poesia ímpar.Figuras poéticas de rara beleza.
    Ele vem num ímpeto de despedida, de quem está fazendo tudo desse cotidiano, pela última vez na vida. Para levantar o poema e mantê-lo em um ritmo menos pesado, o artifício encontra-se nas frases que citei anteriormente. Encerra com uma indagação sobre o exposto, isto é, sobre qual a última lição que a vida nos dá sobre o próprio viver. Ao mesmo tempo em que o cotidiano cansa, ele consegue extrair pérolas como na última estrofe: A derradeira nudez ainda na retina/ o derradeiro amor ainda afoito/ O derradeiro beijo sempre igual/ ainda comporta mil outros iguais. Um BRINDE AO POEMA E AO POETA! Beijos Carlinhos, poeta meu....rsrsrs

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