sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O velório



Em hum mil novecentos e antigamente, numa noite tranqüila de dezembro, fui acordado pelo tilintar do telefone. Era o Tião da Julica, um amigo meu das pescarias, que solicitava minha presença no velório da cidade. Soube mais tarde que o defunto era seu cunhado, um individuo que dedicou toda sua vida ao seu único e grande amor: a cachaça. Velando o corpo estávamos somente eu, o Tião e a esposa.
O tempo foi passando, ninguém mais chegava, desci várias vezes para tomar um cafezinho no primeiro andar, pensei até em ir embora, porém decidi que não poderia abandonar meu amigo Tião numa hora tão difícil como aquela.
Lá pelas 3 da manhã, quando desci sonolento para mais um cafezinho, dei de cara com a sorridente Darquinha. Fiquei feliz com aquele encontro, pois a Darquinha é um ser humano doce, inofensivo e cheio de bom humor. Iniciamos um gostoso bate papo, regado de piadas e gostosas gargalhadas, totalmente impróprio para aquele ambiente. Relaxei-me totalmente, perdi o sono e eis que tive uma grande idéia: contratei a Darquinha para ajudar a velar o defunto até a hora do enterro por alguns reais.
Antes porém impus uma condição, isto é, que ela deveria ter um comportamento exemplar e sério. Fiz então com que ela tomasse um copo de café sem açúcar e que lavasse o rosto.
Já no velório ela cumprimentou educadamente meu amigo e a esposa, falou de seus sentimentos mais profundos e confortou-os com uma sensibilidade surpreendente. Em seguida foi em direção ao “corpo”, olhou o semblante do falecido e desabou em prantos. Chorou, gritou e começou a se descabelar. Tive que intervir e tirá-la dali mesmo contra sua vontade. Fomos então para a área do cafezinho, onde eu passei-lhe

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