sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Benzedeira



Dona Onofra passou a mão na cabeça do menino, deu três fungadas profundas, dançou a dança dos querubins, fez um fumego de ervas (funcho,capim santo,erva de gambá, hortelã e panacéia) que impregnou o local e deu ao ritual uma aura mística.
Após fazer a oração secreta de São Crispim, que só os benzedores conhecem, disse algumas frases incompreensíveis, estremeceu o corpo, deu um remelexo estranho e ungiu o pescoço, a testa e a cabeça do menino com o preparado de ervas.
Já havia se passado sete minutos, mas Dona Onofra parecia muito cansada, o suor descia de sua testa, todavia ela tinha um sorriso de vitória no rosto. Tomou vagarosamente três goles de água, deu sete voltinhas ao redor do quarto, olhou no fundo dos olhos do menino que tremia de medo e disse: “Ocê pode ir imbora mizifio, ocê ta curado e sarado com a graça de Santo Expedito”.
Dona Onofra era benzedeira afamada, mas só benzia nas quartas,quintas e sextas feiras, não cobrava nada, a casa vivia cheia, vinha gente de todo lugar, até de São Paulo e Rio de Janeiro.
E foi assim que, naquele dia,no encerramento das visitas, a Benzedeira recebeu a visita inesperada da esposa de um candidato a prefeito, que pedia ajuda dela para a vitória de seu marido nas eleições. Dona Onofra pegou alguns santinhos do candidato(uns cinqüenta) e explicou a mulher que ela podia ir embora tranqüila, pois ela iria cuidar do assunto como ele merecia.
Já na cozinha, Dona Onofra cortou uma picada de fumo e fez um cigarro com o papel do santinho do candidato a prefeito, tomou um café, acendeu o cigarro e fumou gostosamente. Olhou então, inocentemente, o restante dos santinhos do candidato que estavam em sua mão e colocou-os pertinho do fumo de corda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário